quarta-feira, 10 de julho de 2013

Bons pratos, bons vinhos, boa noite.

Nestes 4 anos de existência do blog Vinhos Sem Mistério, apenas uma vez postei algo referente à algum restaurante. A proposta do blog é falar de vinhos. Mas, assim como da outra vez, nesta experiência recente, fica impossível não falar do restaurante em questão e a experiência como um todo.

Eu e minha esposa tivemos a oportunidade de degustarmos um jantar harmonizado no restaurante Peppo (www.peppo.com.br), em Porto Alegre e tivemos uma excelente noite. A proposta foi harmonizar os ótimos pratos que a casa oferece (além do clima e do atendimento que também são ótimos) com a linha mais premium da vinícula chilena Ventisquero.
Para agregar ainda mais valor ao momento, contamos com a presença do enólogo e diretor comercial, Sr. Hugo Salvestrini, que atua nesta vinícula que mesmo sendo muito jovem (12 anos) já está entre as dez maiores do seu país.

Iniciamos a noite harmonizando um creme de moranga com canela com um vinho branco da bodega. Tomamos o primeiro vinho da linha alta-gama, chamado Grey, da uva chardonnay, safra 2011. Bastante aromático, confesso que o vinho me surpreendeu. Percebi um sabor mais intenso do que o normal para a uva chardonnay, o que tornou esta bebida mais atraente. Em cor dourada, o vinho apresenta claramente o tom frutado que se destina.


Depois partimos para uma outra combinação. O prato foi uma massa recheada de ricota, espinafre e nozes, com um belo molho branco. A sugestão da Ventisquero foi harmonizar com o vinho também da linha Grey, uva Pinot Noir, safra 2011. Recebemos a informação que foi eleito o melhor Pinot Noir do Chile. Não que esta informação seja muito relevante, afinal a uva Pinot Noir nunca foi o forte do país, mas obviamente impõem respeito à garrafa. No aroma e na cor o vinho demonstrou porque é considerado o menor na escala da linha alta-gama da Ventisquero. Aroma muito suave, sem despertar grandes expectativas. Na cor, um vermelho bonito, mas claro demais. No sabor o vinho é leve e agradável, mas chega a ficar leve até demais. Possui um gosto curto, que logo some da boca. Obviamente não chega a ser um vinho ruim, mas não me surpreendeu.


Na sequencia degustamos o grande prato da noite. Um belo filé ao molho de framboesa acompanhado de um gostoso purê de mandioquinha. O vinho sugerido pela Ventisquero foi o Vértice. Eu já havia escutado sobre o mesmo, mas ainda não conhecia. Trata-se de um corte 50% carmenere e 50% syrah, da safra 2007. Já na taça o vinho demonstrou uma bela vocação. Uma cor mais profunda e mais brilhante. Um aroma mais agradável para um vinho tinto, onde sobressai o cheiro de especiarias de uma forma muito provocativa. No sabor, uma nova grata surpresa. O vinho é muito bom. Harmonizou muito bem com o filé e tornou aquele momento ainda mais prazeroso. Um vinho mais saboroso, sem ser ácido. Bem equilibrado na língua, sem se tornar forte ou levemente desconfortável. Uma excelente dica para quem já busca beber um vinho de qualidade, mas ainda não se adaptou ao perfil potente demais dos vinhos de altíssimo padrão. 



Com a expectativa elevada, depois da janta vieram os dois grandes vinhos de bodega. Começamos com um vinho que considero um dos melhores que já tomei até hoje. É o Pangea,  da uva Syrah, safra 2008. Eu inclusive já postei sobre este vinho aqui no blog (que coincidentemente também havia tomado no restaurante Peppo) e mais uma vez ele pode me propiciar uma excelente experiência. Uma cor mais intensa e um aroma ainda mais provocativo. O que me encanta na uva Syrah é justamente o cheiro frutado que é possível sentir em um vinho tinto, e com o Pangea não foi diferente, onde ainda ressalta o aroma de frutas vermelhas. No sabor ele apresenta um rápido e leve toque adocicado, que é percebido em alguns vinhos chilenos de alta qualidade. É muito saboroso e gera a percepção de um vinho de muita qualidade sem exagerar nem na acidez, nem no amargor. E o que me encanta neste vinho é seu sabor longo, que permanece por um bom tempo na boca mesmo depois de ingerido. Possui um sabor clássico de madeira, mas de forma muito equilibrada para um vinho que passa 20 meses em barris de carvalho. Posso dizer que o Pangea seguirá na minha lista de vinhos favoritos. Vale cada gole!


Para terminar a degustação, tivemos o privilégio de provar o vinho top da Ventisquero, que ainda nem foi lançado oficialmente no Brasil. O nome é Enclave, da safra 2010. Este já é um corte, composto por 85% de cabernet sauvignon, e o restante entre as uvas cabernet franc, petit verdot e carmenere. Um vinho interessante. Um aroma que lembra um pouco os vinhos franceses e uma cor muito intensa e bonita. No sabor é muito bom, mas acredito que é um vinho que ainda não está pronto para degustar. Mais alguns anos em guarda ele deverá evoluir. Mesmo sendo o melhor vinho da Ventisquero, no quisito sabor, para mim, ficou abaixo do Pangea. É um vinho com taninos que se apresentam facilmente na boca. Também é um vinho de final longo. O que considerei interessante, é que trata-se de um cabernet sauvignon e neste aspecto, torna-se um vinho respeitosamente equilibrado. Considerei sua acidez um pouquinho acima daquilo que avalio como confortável, mas pode ter ocorrido por ainda ser jovem e talvez não ter decantado tempo suficiente. Acredito que teremos, daqui uns anos, um fortíssimo potencial a ser um dos melhores vinhos do Chile.

Ambiente, atendimento e pratos excelentes do restaurante Peppo harmonizados com os melhores vinhos da chilena Ventisquero propiciaram uma grande e agradável experiência. Já deu saudade!



*Crédito para as fotos: Fábio Mariot



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