domingo, 22 de maio de 2011

Entrevista: Vinhos da Campanha!*



Em Porto Alegre, o Bairro Floresta foi o local escolhido para a apresentação de 10 das 16 vinícolas existentes hoje na região da Campanha, no último dia 17. No excelente evento, organizado pela enóloga Maria Amélia Duarte Flores,, da Vinho  e Arte, na churrascaria Na Brasa, foram degustados os produtos das vinícolas Almaden, Cordilheira de Santana, Dunamis, Guatambu, Fortaleza do Seival, Santa Colina, Routhier & Darricarrère, Don Pedrito, Campos de Cima e Peruzzo. A qualidade dos vinhos dessa nova fronteira do vinho brasileiro chamou a atenção do elevado número de profissionais do ramo que compareceram à apresentação. Para falar mais sobre essa nova realidade do vinho nacional, entrevistamos a enóloga Gabriela Potter, da Vinícola Guatambu:

Vinhos Sem Mistério -  Como surgiu a visão da indústria vinífera na região?



Gabriela - O potencial da região da Campanha para produção de vinhos foi identificado na década de 1940, quando o professor norte-americano Harold Olmos, da Universidade de Davis, da Califórnia (USA), veio à região e mostrou que ela era uma das melhores para o cultivo de viníferas nobres do mundo. Na década de 1970, estudos mais detalhados, referenciados pela mesma universidade de Davis, mas com participação de técnicos brasileiros do Instituto Agronômico de Pelotas (RS) e da Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul , comprovaram que a Campanha tem características de clima e solo muito adequadas à vitivinicultura, e deram as bases para experiências do grupo multinacional National Distillers, em Livramento, onde eles fundaram a Almaden, em 1973.
Vinhos Sem Mistério - A campanha gaúcha é a nova Califórnia no mundo do vinho?
Gabriela -      A Campanha Gaúcha será a nova Califórnia no mundo dos vinhos num futuro próximo, de aproximadamente 5 anos. Muitas vinícolas estão investindo e se desenvolvendo na região. O enoturismo também será alavancado. A Guatambu Estância do Vinho, por exemplo, será inaugurada em 2012 com área construída de 2.900m², com uma grande área voltada ao turismo, como espaço gourmet, auditório e museu. Pretendemos mostrar ao apreciador de vinhos a cultura do pampa gaúcho também.
A região apresenta déficit hídrico no verão e alta insolação, justamente durante o período da maturação das uvas, favorecendo a acumulação de açúcar nos frutos e a maturação dos polifenóis, resultando em maior qualidade nos vinhos. O clima apresenta amplitude térmica (diferença entre a temperatura do dia e a da noite) superior a 12° C, fator importante para a boa maturação da uva. Está situada no Paralelo 31, o mesmo no qual, em outras regiões do Hemisfério Sul, se elabora alguns dos grandes vinhos: Santiago, no Chile; Mendoza,na Argentina; Stellenbosch, na África do Sul; e Nova Gales do Sul, na Austrália.

Vinhos Sem Mistério - Qual o diferencial mercadológico dos nossos vinhos? 

Gabriela -     Assim como é o povo brasileiro (miscigenado, alegre e descontraído), nossos vinhos expressam toda esta diversidade: produzimos vinhos nos diferentes climas que nosso país possui: desde o Vale do São Francisco, no Nordeste, onde o clima é tropical, não havendo frio, passando pela região serrana de Santa Catarina e a tradicional Serra Gaúcha, até a região da Campanha, com seu clima espetacular para vinhos finos, como já falei anteriormente. Na minha opinião, o diferencial mercadológico dos nossos vinhos será justamente esta diversidade e também o fato de produzirmos vinhos mais frutados e fáceis de beber, descomplicados.

Vinhos Sem Mistério - Na competição com importados, há um conceito de que somos bons em espumantes e vinhos brancos mas  não em tintos. Como você analisa isso?

Gabriela -     Esta cultura foi estabelecida no passado, mas atualmente as vinícolas brasileiras estão sabendo explorar melhor cada terroir e investindo muito em tecnologia e conhecimento, e o resultado destas grandes melhorias já está sendo reconhecido, através de várias premiações internacionais que os vinhos brasileiros vem conquistando. A Serra Gaúcha descobriu e consolidou a sua vocação para espumantes, pois devido ao clima úmido, este é o melhor produto que a região pode expressar. Com relação aos vinhos tintos, a Campanha Gaúcha apresenta o clima ideal para as uvas tintas, que apresentam ciclo mais longo que as brancas, permitindo que elas sejam colhidas com a maturação completa. Por isso nossa região está produzindo grandes vinhos tintos, macios e encorpados, sejam eles mais frutados ou mais amadeirados. Os conhecedores do mundo do vinho já sabem disso, agora o maior desafio é massificar esta imagem, que leva algum tempo, mas chegaremos lá e surpreenderemos.

Na foto, da esquerda para direita: Isadora, Nara e Gabriela, proprietárias da Guatambu.



*Este texto foi escrito por Paulo Renato Rodrigues, Economista e Blogueiro do ZH Moinhos.

sábado, 14 de maio de 2011

Descobrindo o Maycas del Limari

Na última noite, aconteceu algo interessante ao escolher um vinho na minha adega. Por infelicidade, não fotografei para mostrar aqui no blog, mas vale a pena o relato. Depois que escolhi a garrafa, cortei a cápsula em cima e notei que a rolha estava levemente saltada para fora. Isto é um indicador que o vinho pode não estar bom. Algo dentro dele provocou uma pressão (gás) maior do que o normal. E foi o que comprovei quando abri. Vinho amargo!!! Uma pena, afinal tratava-se de um vinho Francês, que acabou indo todo fora, pois realmente não tinha como beber.

Partindo para uma segunda escolha, resolvi abrir um vinho que eu havia comprado de curioso. O nome é Maycas del Limari, Chileno, Reserva Especial, safra 2008 da uva Syrah. A garrafa, de ombros "afeminados" já indicava que seria um vinho leve. A cor é intensa, um rubi escuro, típico de vinhos mais robustos como o Tannat, por exemplo. Mas o sabor super equilibrado e realmente leve. Também foi possível perceber que este Syrah era menos frutado que a maioria dos produzidos no Chile. Um sabor prolongado, que no final apresenta um toque de chocolate e gosto tostado.
O vinho é produzido em um vale chamado Valle del Limari, no nordeste de Santiago, próximo ao oceano pacífico, e no seu contra-rótulo vende a idéia da influência das brisas do oceano nas suas uvas. Realmente deve ser verdade, afinal, na minha opinião, foi o melhor Syrah Chileno que já tomei.

domingo, 8 de maio de 2011

Dois Montes: Alpha e das Servas!

Final de semana e o frio chegando! Um ótimo cenário para degustar bons vinhos!
Neste final de semana, tomei duas garrafas especiais. Ambas eu já conhecia mas ainda não tinha comentado aqui no blog.

O primeiro foi um Montes Alpha, Carmenére, 2008, Chileno. Este vinho foi apresentado para mim pelo meu amigo (e enófilo - apaixonado por vinho) Rafael. É um vinho da vinícula Montes, que é uma produtora super reconhecida, no mundo todo, e a uva Carmenére é a uma típica (e famosa) do Chile. Um vinho bem concentrado, com sabor longo, e um tom frutado leve o suficiente para se tornar um sabor super agradável. É um vinho caro no Brasil, mas a sua qualidade, tonalidade de cor, cheiro (bouquet) e profundo sabor compensam o seu preço. É um vinho que deve ser apreciado por quem já conhece vinhos, e que possa dar o devido valor.








Depois, para completar, provei uma meia garrafa de um vinho Português chamado Montes das Servas, Escolha, 2007, da região do Alentejo. A expressão "Escolha" para os Portugueses, é como a nossa expressão "Reserva", e este vinho foi produzido em uma das regiões mais famosas de Portugal, o Alentejo. É um corte das uvas Trincadeira, Aragonez e Touriga Nacional, todas as clássicas uvas deste país. Uma coisa interessante, é que quase todos os vinhos Portugueses possuem uma leve sensação de gás, o que torna o vinho diferente dos demais. É um vinho de sabor um pouco mais curto, mas ainda assim super agradável e equilibrado.
Do Chile à Portugal, fica a dica!

domingo, 1 de maio de 2011

Carmenére, a uva do casal!


A convite de um casal muito querido de amigos, o João Batista e a Angelita, fomos de forma repentina parar em um restaurante para uma janta descontraída de sexta-feira.
Já comentei outras vezes aqui neste blog, que a proposta dele não é falar de restaurantes. Porém, toda vez que o restaurante acaba sendo muito surpreendente e envolvente na temática do vinho, sou obrigado a citar!
Digo isto, pois fomos mais uma vez na Vinum, que já escrevi uma vez sobre este fantástico lugar (http://vinhossemmisterio.blogspot.com/2011/01/buffet-de-vinhos.html).

Fui o primeiro a chegar no restaurante e tive uma grata surpresa. Estava acontecendo um evento de degustação e como conheço o pessoal da casa, fui convidado para me juntar com a “turma” e conhecer os vinhos da vinícula Campos de Cima. Para começar, trata-se de uma vinícula da cidade de Itaqui, do interior do RS, próximo a fronteira com a Argentina. Experimentei alguns vinhos e destaca-se o Ruby Cabernet 2008. Esta é uma uva difícil de ser encontrada, é fruto de uma combinação da Cabernet Sauvignon com a Carignan. A surpresa foi muito positiva. O vinho é agradável, muito equilibrado e com um destaque especial para seu buquet e sua coloração. Depois pude provar o Tannat deles, que considerei muito melhor do que a grande maioria dos Tannats que já tomei. Não sabia que o Brasil estava produzindo bons vinhos desta uva. Não conhecia a região e menos ainda a vinícula. Valeu a pena esta descoberta. Em breve terá venda on line!
A segunda boa surpresa foi que conhecemos um novo casal, que acompanharam os amigos que nos fizeram o convite, o Sérgio e a Mari. Assim, formamos um time de seis apaixonados por vinhos e começaria ali um excelente rodízio de vinhos!

Começamos a nossa rodada de vinhos com uma célèbre frase do JB, que definiu que o vinho de uva carmenére é o “vinho do casal”. Ele definiu assim, pois a carmenére agrada aos paladares femininos e também aos masculinos. Uma boa definição! Um brinde à frase e seguimos em frente!
Também por indicação do JB, conheci o Domaine Conté, obviamente Carmenére, safra 2008. Um vinho Chileno, do Valle Cachapoal. Boa frase, e bom vinho! De fato harmonizou super bem com as entradas e com o nosso bate papo. Abriu os nossos sentidos para o vinho e todos na mesa concordaram que se tratava de uma excelente escolha. Não lembro ao certo o preço, mas era algo na faixa de R$ 60,00, isto no restaurate. Um vinho produzido em um vale bem famoso no Chile, que possui grandes vinículas, como a Santa Ema que falaremos mais abaixo.. É um vinho com uma acidez um pouco mais amena que o padrão do Chile, e por isso nos agradou tanto. O sabor é bom e longo, levemente frutado e uma presença bem equilibrada da presença dos taninos. Um vinho leve, mesmo tendo quase 14% de álcool.






O segundo vinho foi o Perpetuum Premium, Malbec 2008. Também um ótimo vinho, principalmente por ser um Malbec de uma forma não tão agrassiva ao nosso paladar, como é possível encontrar facilmente na Argentina. Este vinho também é Argentino, de Mendoza e foi o vinho que escolhemos para harmonizar com os pratos. Mas não vou falar muito dele, pois o post de hoje é uma homenagem ao Carmenére, o vinho do casal!








Para fechar, e esticar a nossa conversa, voltamos para o Carmenére. Desta vez foi uma indicação do sommelier. Chegou na nossa mesa o Santa Ema, Chileno, Reserva Carmenére Barrel Select 2007. Para começar, nos explicaram que este vinho tem uma espécie de lenda. Dizem que após o segundo gole, devemos fazer um pedido, e ele se realizará! Não acredito nas bruxas, mas como elas existem, resolvi também fazer o meu pedido: continuar tomando bons vinhos com bons amigos por muitos e muitos anos! Não sei se era porque já estávamos com um certo nível de álcool no sangue, mas gostei muito deste vinho, que é composto por uma bonita tonalidade da cor ruby, um bom aroma e um final frutado que deixa um ótimo gosto na boca.
Encerramos a noite! Um brined aos vinhos! Um brinde aos amigos!